sexta-feira, 24 de agosto de 2007

POR ONDE ANDA ESSA TAL SIMPLICIDADE?



A simplicidade no contar histórias tem sido para mim uma busca incansável. Tenho assistido algumas apresentações que me fazem refletir muito acerca do que anda acontecendo com essa tal simplicidade. E quando digo assistido é porque muitas vezes saio das pretensas sessões de contadores de histórias sem levar os contos comigo. Como senão tivesse escutado com o coração as histórias narradas. Isso porque há uma necessidade tão grande de inserir recursos na performance que acaba por esvaziar o conteúdo das histórias tradicionais. Aqui entra uma musiquinha (que pode evocar o que não estou sentindo no momento), ali o contador (?) se caracteriza de um personagem e não permite que o imaginário do ouvinte crie suas próprias imagens.
Andamos nos esquecendo do sentido primeiro da arte de contar histórias: o de agregar pessoas. O jeito simples de contar e a missão de disseminador de histórias estão voltando a ser alguma coisa do passado que talvez não interesse ao mundo de hoje tão repleto de recursos e máquinas. É uma das doenças dos tempos modernos: tornar tudo descartável e com tantos invólucros para esconder a fragilidade do conteúdo que acaba por não seduzir ou faz parecer que não é para qualquer um fazer.
É preciso que se reflita a respeito disso e que não percamos de novo o fio de Ariadne que nos mostrava a possibilidade de trazer cores e sentimento para um mundo apático e sem bases afetivas.
Contar histórias é, antes de tudo, estabelecer laços. Não quero black-out, quero olhar o contador nos olhos; não quero parafernálias, quero proximidade.
Muitas vezes nas oficinas ouço depoimentos de alunos que gostam de contar histórias, mas que ''não conseguem contá-las como um contador profissional''. É quando eu evoco três vezes São Cascudo e Santa Sherazade, pois a sensação que me dá é que criaram um modelo de narrador que vai inevitavelmente levá-los a se tornarem meros repertidores de histórias.
Chegam a pedir ingenuamente autorização para contarem as histórias do meu repertório! A sede pela pesquisa, o prazer da descoberta, as juntas arranhadas na escavação (acho que isso é da Clarissa Pínkola) e o compartilhar estão sendo jogados para escanteio.
E aí podemos esperar o pior: contar histórias descascando bananas (com o foco nas bananas), contar histórias plantando bananeira de costas para os ouvintes, contar histórias sem contar histórias e outros absurdos que quem viver, não ouvirá.


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